A busca de um casal por um filho por meio da fertilização in vitro inicia-se no momento em que ocorre uma decisão por buscar uma forma de realização que não foi possível por vias naturais. O tratamento se dá por meio de inúmeras fases que não podem ser adiantadas e nem ignoradas. Para se passar para a próxima fase, deve-se obrigatoriamente transpor a anterior. Em cada fase há questões emocionais, por isso a importância do apoio psicológico.

Ao saberem que não podem gerar um filho por vias naturais, é comum o casal se culpar e se questionar sobre o porquê daquilo estar acontecendo justamente com eles. Sentem-se inferiorizados ao verem casais passeando com seus filhos, parentes que foram bem sucedidos, e ainda se perguntam: “Por que algumas pessoas que não merecem têm filhos, e nós que tanto queremos, simplesmente não conseguimos?”.

Quando procuram uma clínica de reprodução assistida, surge a esperança: “Se não foi possível por vias naturais, então buscaremos uma forma alternativa”. Não se importam com a probabilidade e sim com a possibilidade de conseguirem o tão sonhado filho. “Se algumas pessoas conseguiram, por que nós não iremos conseguir?”. Surge então a expectativa, e com ela os sentimentos de ansiedade.

Como já foi dito, o tratamento é realizado por etapas. Primeiro ocorre a estimulação do ovário, passando pela aspiração do folículo para a coleta do óvulo, seguido da fertilização do óvulo pelo espermatozoide e, posteriormente, a colocação do embrião no útero, até o resultado do Beta HCG. Todo o processo necessita de acompanhamento psicológico para que haja um suporte que irá ajudar o casal a superar cada etapa.

O espaço terapêutico é o momento para se falar desta ansiedade. A ansiedade está ligada a algo que está na expectativa de acontecer ou não, mas achamos que irá acontecer. É algo considerado normal. Realizar uma prova, uma entrevista de emprego e aguardar na sala de espera do dentista são exemplos de situações que nos causam aquele friozinho na barriga, nos deixam na expectativa do que está por vir. A questão é que nem sempre conseguimos lidar com ela de um modo fácil.

A ansiedade também pode estar ligada ao medo de que o pior cenário se torne realidade. Em situações mais agravadas, o sintoma não será um friozinho na barriga e sim, batimento acelerado do coração, transpiração intensa, tonturas e tremores. São sintomas físicos provocados pela nossa forma de pensar.

Quando estamos ansiosos diante de uma entrevista de emprego, costumamos pensar no pior. “E se meu currículo não for bom? E se o entrevistador me perguntar algo que não saberei responder? E se eu ficar nervoso na hora e não souber me expressar?” A pessoa pensa em tantas possibilidades negativas que antes mesmo da entrevista acontecer, ela já se sente fracassada e acaba realmente ficando nervosa e perdendo uma oportunidade de emprego. Houve um medo enorme de algo que não ocorreu.

Como se dá isso num tratamento de fertilização in vitro? Nos primeiros atendimentos, o casal fica sabendo de todo o processo, de todas as etapas que estão por vir. Em cada um dos processos ocorrem expectativas. Nenhuma dessas etapas pode ser excluída e o sucesso de uma etapa é condição para que a próxima venha a acontecer.
O casal tem uma pequena participação no processo da fertilização in vitro. Como assim, “pequena”? Vamos então definir o que depende do casal, o que depende da ciência e o que não depende de nenhum dos dois. O momento da estimulação está diretamente ligado às aplicações das injeções e depende do efeito da medicação, isto é, como o ovário irá responder ao estímulo hormonal é algo que não controlamos. No próximo momento o homem fornece o esperma, a mulher os óvulos e depois é só aguardar. Não há mais nada que poderá ser feito pelo casal. A fertilização no laboratório e o embrião ser aceito pelo organismo dependem da natureza. Resta ao casal aguardar o resultado do Beta HCG.

“O que diferencia então um serviço de reprodução assistida de outro serviço? Como posso lidar com as minhas expectativas, com as expectativas do meu cônjuge e com as expectativas da minha família?”.

Certamente o apoio psicológico dado ao casal durante todo o tratamento ajuda muito. O que está em jogo é um filho, um sonho que ainda não pôde ser realizado. E a forma como lidamos com esse momento é que fará com que todo esse processo seja vivenciado de forma saudável, ou não.

A forma como lidamos com nossa ansiedade fará com que toda essa expectativa seja um caminho suave ou doloroso. Quando estamos tranquilos diante de uma entrevista de emprego, por exemplo, lidamos de forma mais sadia com o processo, mesmo que o resultado final não seja o esperado. Ter um local para ser ouvido durante o tratamento da reprodução assistida lhes dará forças para lidar com cada etapa. O casal só tem a ganhar.

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